À espera de um ” Green new deal ” para o emprego

A Alemanha assumiu a presidência rotativa do Conselho da União Europeia a 1 de julho, precisamente numa altura de grande incerteza devido ao impacto da crise económica e de grande expectativa, por sua vez, devido ao alcance dos planos de estímulo a nível europeu.
A Chanceler Alemã Angela Merkel declarou em várias ocasiões que os programas ambientais estão a apresentar um impacto significativo na economia e que definirão em grande parte o desafio da recuperação económica. A Comissão Europeia tem expressado a mesma opinião e mesmo FMI e numerosos fundos de investimento globais, incluindo o gigantesco Blackrock, apelaram às principais economias do mundo para que fizessem grandes investimentos em novas infraestruturas destinadas a criar uma economia sustentável.
Assim, parece claro que o “sector verde” ocupará também um lugar de destaque nos planos de reconstrução de Espanha e Portugal, sem esquecer que, a curto prazo, o objetivo continua a ser a reativação de atividades com uma elevada participação no emprego nacional, como a construção e o turismo.
É também uma prioridade tirar partido desta fase de reconstrução para melhorar a capacidade de competir através da incorporação de desenvolvimentos tecnológicos e novos planos de formação, especialmente tendo em conta que, perante uma certa inércia de “desglobalização”, muitos processos de fabrico que tinham sido deslocados para a China podem regressar à Europa. Espanha e Portugal podem ter oportunidades neste regresso, podendo criar umas cadeias sólidas de valor nacional no fornecimento de bens essenciais e estratégicos.
Também aqui, os investimentos na modernização e na sustentabilidade acabarão por desempenhar um papel fundamental.
A “economia verde” emprega meio milhão de pessoas em Espanha, aproximadamente 2,5% do total. Este número poderá ser multiplicado nos próximos anos, com base nos planos de desenvolvimento já previstos pela UE para promover uma economia mais sustentável e uma maior digitalização a todos os níveis. Espera-se que a crise acelere implementação destes processos, aumente o investimento e, em última análise, dê o salto para o grande projeto “Green New Deal“, de que já se fala como um futuro apoio à recuperação europeia e uma fonte de novas oportunidades profissionais.

O impacto destas medidas no emprego irá para além do emprego direto advindo da geração de energias renováveis ou do desenvolvimento de infraestruturas de mobilidade sustentável. Espera-se um forte efeito de arrasto em sectores tais como a construção residencial, turismo ou indústria agroalimentar. Deve também considerar-se que estes investimentos incluirão a implementação de novas infraestruturas de digitalização, Big-Data ou Blockchain, o que, por sua vez, favorecerá a disseminação do conhecimento a todo o sistema produtivo e apoiará a sua adaptação ao novo paradigma industrial.
Em suma, o “Green new deal” pode ser uma realidade e uma grande oportunidade. A implementação progressiva de modelos de consumo e produção sustentáveis irá acelerar a penetração de novas tecnologias e transformar o panorama do emprego. O seu alcance terá impacto em muitos sectores, desde a produção e construção, a atividades de formação e consultoria, ao turismo e à agroindústria.
O “Green new deal” é um desafio para o futuro, tendo sempre presente que o objetivo a curto prazo continua a ser a rápida reativação da procura e a minimização dos danos imediatos nos sistemas de produção.